quarta-feira, julho 06, 2011

Primeiro e último dia no Divã.


"O que importa afinal, viver ou saber que se está vivendo?"
(Clarice Lispector)


Depois de tanta expectativa para começar minha terapia, descobri após minha primeira sessão que a mesma será a única, pelo menos por enquanto.

Falei tanto, e de tanta coisa, na minha primeira sessão, que nem lembro bem o que foi dito. Lembro mais da sensação de estar lá, e de tudo que eu já pensava em falar nos próximas encontros. Um descarrego, acho que é isso que significa terapia. Jogar de si tudo que está preso, escondido em algum lugar, empatando algumas atitudes inadiáveis. É se desarmar. E o interessante é que na medida em que você expressa em palavras, em voz alta de um modo que você possa ouvi-lás, parece que aquele pensamento sem conexão passa a ter sentido, ou o contrário, aquilo que você achava óbvio deixa de ter razão. São nesses momentos que você encontra aquela resposta para aquela pergunta que você nem ousou formulá-la. E acaba, mesmo sem saber, tomando, naquele instante, a decisão certa.

Após a sessão inaugural, a Dra. Fabiana, psicóloga atuante junto aos advogados assistidos pela CAARN, passou uma tarefa de casa. Eu teria que fazer uma redação, escrita a mão, de modo que eu pudesse fazer várias alterações ao longo da semana, cujo título seria "Quem Sou Eu". Não cheguei a fazê-la, mas pensei em como seria difícil fazer uma definição geral de mim mesma. O que eu achava sobre mim, e o que eu achava que a pessoas achavam sobre mim. Fiz vários rascunhos de cabeça. Rabisquei e apaguei várias vezes na mente, não sabia por onde começar. O que eu sabia de mim era a imprecisão. A dualidade e complexidade, que me fizeram estar lá naquela potrona de frente pra aquele espelho em forma de gente. Não consegui colocar no papel, mas ainda vou tentar, numa próxima postagem.

Não sei se aqueles 45 minutos teve algo a ver com o desenrolar dos acontecimentos que os sucederam, o fato é que naquela mesma semana decidi mudar completamente o rumo da minha vida. Esquecer os motivos e metas que me mantinham ali, naquele momento, e virar na direção contrária. Escolher pelo o que eu mais havia relutado ultimamente. A opção menos atrativa aos meus olhos durante um bom tempo.

Não sei bem o porquê, por qual razão, essa decisão houvera sido tão adiada, e de uma hora pra outra, com tamanha convicção ela se tornara tão precisa, e fácil de certo modo. A sensação de tê-la tomado traduz em um alívio, e ao mesmo tempo, o que mais me surpreende, uma empolgação. Talvez seja mesmo a vontade de viver o novo, de simplesmente mudar. Não sei.

Talvez se eu continuasse na terapia eu tivesse essa resposta, assim como tantas outras que não tenho. Esse foi o motivo que sempre me fez sentir a necessidade de uns poucos minutos por semana de frente com alguém estranho, e capacitado: adquirir respostas pras minhas inquietações. Mas a experiência do Divã me fez entender que o maior segredo pra ser feliz não é só conhecer a si mesmo, é enfrentar os medos e viver. É disso que todos nós precisamos.