
Não devemos deixar as pessoas passarem simplesmente nas nossas vidas. Elas devem permanecer, de alguma forma. Principalmente se forem pessoas especiais. E falando nisso, reside aí um questionamento que sempre me vem à mente. O que é ser especial? Porque alguém pode ser especial pra você, e outra com as mesmas qualidades, aparentemente, não ser. O que define isso? Difícil dizer... talvez não haja explicação. Acho que tem a ver com aquela clássica historinha O Pequeno Príncipe (Exupery), "é só com o coração que se pode ver direito; o essencial é invisível aos olhos". De um sorriso ou olhar, de um gesto de atenção ou gentileza. De um abraço despretencioso, ou um dar-se as mãos. De um quase nada pode surgir um carinho, uma afeição. Então a pessoa já se torna especial, porque foi "domesticada" ou simplesmente porque foi capaz de cativar.
Trancrevo aqui uma passagem do livro O Pequeno Príncipe. Um livro que não deve ser lido apenas quando criança, mas quando criança, quando adulto e sempre que se quiser ser tocado em seus sentimentos mais puros. Aí está:
..
“E assim o pequeno príncipe domesticou a raposa. Enquanto se aproximou a hora da partida dele...
- Ah – disse a raposa – vou chorar.
- A culpa é sua – falou o pequeno príncipe.
- Eu nunca lhe desejei mal algum, mas você quis que eu o domesticasse...
- É verdade – concordou a raposa.
- Mas agora vai chorar – disse o pequeno príncipe.
- É verdade – repetiu a raposa.
- Então não lhe adiantou nada!
- Isso me faz bem – declarou a raposa – por causa da cor dos trigais. – Depois acrescentou: - Vá olhar para as rosas de novo. Agora você há de entender que a sua rosa é única no mundo. Depois volte para se despedir de mim, e eu lhe darei de presente um segredo.
O pequeno príncipe foi embora para olhar as rosas de novo.
- Vocês não são nada como a minha rosa – disse ele.
- Por enquanto, não são nada. Ninguém as domesticou, e vocês não domesticaram ninguém. Vocês são como a minha raposa, quando a conheci. Era uma raposa como mil outras. Mas, eu a tornei minha amiga, e agora ela é única no mundo todo.
E as rosas ficaram muito encabuladas.
- Vocês são belas, mas são vazias – continuou ele.
- Não se poderia morrer por vocês. É verdade, quem passasse distraído acharia que a minha rosa é igualzinha a vocês... a rosa que me pertence.
- Mas ela, em si, é mais importante do que todas as centenas de vocês outras rosas; porque foi ela que eu reguei; porque foi ela que pus sob uma cúpula de vidro; porque ela é quem eu abriguei atrás do biombo; porque foi por ela que mandei os lagartos (a não ser duas ou três que salvamos para serem borboletas); porque a ela é que escutei, quando se queixava ou se gabava ou, às vezes, até quando não dizia nada. Porque ela é a minha rosa.
E ele voltou para ver a raposa.
- Adeus – disse ele.
- Adeus – disse a raposa. – E eis o meu segredo, um segredo muito simples. É só com o coração que se pode ver direito; o essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos – repetiu o pequeno príncipe, para não deixar de se lembrar.”
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