"Este vazio de amor todos os dias: a cabeça pesada ao meio-dia, a boca amarga, um cheiro de sono e solidão nos cabelos..."(Caio Fernando de Abreu)
Só podia ser uma força negativa muito grande que regia tudo a sua volta, e a impedia de viver aquilo que ela, tão sonhadora, sempre desejou. Era tantos desencontros, ilusões, tantas coincidências ao avesso, que só podia chegar-se a acreditar que uma espécie de mal interferia sempre em sua vida, de modo a nunca, jamais, se concretizar o que tantas vezes esteve a um passo disso. Aquela mulher já na idade, mas menina no seu jeito de acreditar em contos de fadas, parecia estar com o destino marcado. Condenada a não ser feliz. A ser sozinha no mundo. Sua cina era não viver o amor. Essa coisa que ela nem sabia direito o que que era, mas que sonhava todos os dias em se entregar a ele. Ela queria se embreagar nesse sentimento. Ser de alguém ao passo que esse mesmo alguém seria dela. A essa altura, isso parecia tão impossível aos seus olhos. Já não tinha forças pra acreditar que do nada, assim como uma borboleta a pousar em alguém, aconteceria enfim todos os sitomas que se diz sentir. Coração acelerado, suor frio, tremedeira, aperto no peito. Isso tudo duradouramente. Sem validade nem vencimento. Ser amada, cuidada, por um sempre muito longo.
Ela ouvira algumas vezes falar-se em culto do mal, magia negra, macumbaria. E assim como ela acreditava num Deus que criou o mundo e a humanidade, ela sabia que existia o outro lado da moeda. Sabia, embora nunca desconfiasse das pessoas, como se elas fossem incapazes de fazer o mal, que havia alguns que andavam pelos caminhos errados, insistiam em fazer sofrer muitas vezes quem mais os deram a mão. Era assim: tudo na vida, uma dualidade. O bem e o mal, o certo e o errado. O limpo e o sujo. Assim também era as pessoas. E sinceramente ela começava a desconfiar de que no seu passado alguém poderia ter rogado contra ela alguma espécie de feitiço, maldição ou coisa assim.
Sempre que pensava nisso, mudava de idéia e achava melhor acreditar que só ainda não era o tempo certo pra viver isso. Pode ser. Pra cada coisa há um espaço no grande relógio da vida. O certo era torcer para o tic-tac tictacar bem acelerado porque não se podia mais esperar. E fora isso, ela, com sua fé desbotada, pedia a Deus, a Ele que é mais poderoso que qualquer força do mal, que ganhasse do dragão e lhe desse a paz. Lhe desse o amor.
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